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34 plátanos

Por Bianca Zilio Scottá


No ano de 2000, Daniela e Clóvis André Schumann começaram a namorar e

resolveram construir, no terreno da mãe de Clóvis, um pequeno apartamento para

alugar. Dia 27 de junho. A cada ano que a construção fazia aniversário, crescia

cada vez mais, tanto para os lados, quanto para cima. Se os queridos hóspedes

ficassem um ano sem visitá-la, quase não reconheceriam o local. Um apartamento

se tornou um sonho. Os clientes cresceram. Hoje, são 34 apartamentos tipicamente

alemães, localizados na Serra Gaúcha, em Nova Petrópolis. A Pousada. “Sempre

foi uma loucura, ela crescia muito rápido”. Daniela se diverte relembrando o início de

tudo.


A Pousada amadureceu muito ao longo dos 20 anos de vida. Sofreu crises,

mas sempre achava um jeito de seguir em frente. Até que, no dia 13 de março, teve

que fechar, devido a pandemia. Foi a primeira vez em que ela realmente fechou as

portas. Foi para a saúde de todos, claro. Mas as contas continuam a chegar e,

fechados, a família não possui outra renda. “Está sendo um momento muito

marcante. Nós passamos por dificuldades, mas sempre conseguimos dar a volta por

cima”. Daniela ainda tem esperanças. Uma nova estrutura, que estava sendo

construída para celebrar as duas décadas de serviços, está parada. A festa de

comemoração, que duraria um final de semana inteiro, cancelada. Um sonho

atingido em cheio e exatamente no coração.


A tristeza dominou o casal nas primeiras semanas do fechamento. Para

quem sempre lidou com pessoas e estava acostumado com a Pousada cheia, o

silêncio incomoda. Quase ninguém é capaz de tolerá-lo por muito tempo. Machuca.

A falta de contato, ainda mais. Por enquanto, nenhuma nova história está sendo

ouvida. Nenhum novo rosto está sendo conhecido pela primeira vez. Mas o barco

precisa continuar navegando. “Se deixarmos a peteca cair, acabamos ficando

doentes”. A preocupação da dona do estabelecimento é nítida em sua voz. Ninguém

estava preparado. E ninguém sabe o que ainda está por vir.


Ter que recomeçar, sentar e repensar tudo o que já foi feito, fez o casal se

lembrar de quando só havia um apartamento. Vinte anos de história. Duas décadas

em que a Pousada foi lar, mesmo que por pouco tempo, para centenas de pessoas.

Noites frias de inverno. Noites quentes de verão: a “safra” do estabelecimento.

Turistas que escolheram a dedo um local de descanso, de paz e de calmaria.

Clientes que não optaram por Gramado e sim por Nova Petrópolis.


Cada grãozinho que precisou ser movido do lugar de origem, cada reforma,

cada construção, cada móvel novo. “A pandemia nos fez lembrar de tudo que

passamos para chegar até aqui”, se emociona Daniela. O devido valor só vem,

quando se perde. Ver a Pousada fechar, para o bem de todos, também é perda.

Dói.


Não faz parte do propósito. Nunca irá fazer. Portas fechadas não combinam.

Um lar deve ser um lar a qualquer momento.


No dia 1º de maio, por decreto municipal, a Pousada pôde voltar a abrir. Mas

toda a estrutura teve de ser repensada e reavaliada. Para os check-in e check-out, o

bom e velho papel e caneta foram aposentados. Agora, é por aplicativo. Mais uma

vez, a tecnologia salva. Os ambientes são limpos seguindo as recomendações. O

café da manhã reserva a culinária alemã. E também os horários. Tudo precisa ser

marcado com antecedência. E é muito novo para todos.


A impessoalidade reina. Mas, no momento, impessoalidade é segurança. O

contato é perigoso. A Pousada quebrou o silêncio, por um breve momento. As vozes

não estão mais as mesmas. O lugar também não. O clima, muito menos.


“O plátano é a árvore que está na subida da Serra Gaúcha. Acompanha a

Rota Romântica” explica Daniela. Catorze municípios. Um deles, Nova Petrópolis.

Lar do casal e de dois filhos adolescentes. Da família Schumann. E de futuros

netos. A árvore embeleza a Rota. Principalmente no outono, quando suas folhas

caem. Uma espécie de grandes dimensões que alcança muitos metros. A Pousada

também. Um Plátano, virou 34. Pousada dos Plátanos.

 
 
 

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