Sonho Português
- isoladosproj
- 16 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Por Leonardo Moreto
Quando o assunto é qualidade de vida, muito se fala na realidade dos
brasileiros. De fato, o país tem vivido tempos difíceis na economia, saúde,
educação, na empatia com o próximo e vários outros fatores sociais
relacionados ao estado e a população.Já virou rotina. E provoca um desgaste
notável na sociedade e nos hábitos de convívio. No outro lado do oceano,
contudo, uma grande concentração de países desenvolvidos. Um dos
exemplos é Portugal, que está entre os 50 países com o maior Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo. O número de brasileiros que se
mudaram para terras portuguesas aumentou em 43% de 2018 para 2019. Esse
é um dos desejos de Marlova Veit Cavedon de Souza, de 43 anos. Gaúcha,
casada e mãe de duas filhas, uma de 22 anos e outra de apenas 3, ela estava
com tudo pronto para se mudar com a família ao país Luso.
A realidade de conhecer novas culturas, costumes, lugares, comidas e,
principalmente, viver uma experiência em um país com melhores condições de
segurança são fatores que influenciam qualquer pessoa na hora de decidir o
novo lar. Em Viamão, Marlova manteve uma loja de artigos gaúchos que
também tinha um bistrô por 8 anos, junto ao seu marido André Luiz,
gastrônomo e churrasqueiro gabaritado. Durante esse período a loja já foi alvo
de assaltos, algo que decepcionou e a assustou muito, que se sentiu na pele a
sensação de estar entre a vida e a morte. “Eu fui assaltada com uma arma
apontada na minha cabeça”- conta a microempreendedora. O fator econômico
também influenciou o fechamento da loja, pois não havia um aumento
considerável nos lucros do empreendimento: “Tudo que entrava na loja era
reinvestido. Era muito trabalho pra pouco retorno”. Não contente com os fatos,
optou por encerrar as atividades do estabelecimento em 2018 para colocar em
prática o momento tão esperado: se mudar para Portugal. Vendeu tudo, desde
o resto de estoque até as mobílias do local. Isso manteve as contas da família
em dia e sustentou o planejamento de mudança por todo o ano de 2019. Após
a virada para 2020, quando estavam sendo decididos os detalhes finais da
viagem, a pandemia do novo Coronavírus chegou pela primeira vez no Rio
Grande do Sul, em março.
Com o futuro indefinido e sem poder sair de casa, Marlova e André Luiz
decidiram preparar uma estrutura dentro da própria garagem para produzir e
vender aquilo que sabem fazer de melhor: pratos caseiros congelados. Isso
contribuiu para suprir as despesas e também assegurar a mudança após uma
futura normalização das circunstâncias em que vivemos atualmente. A ideia foi
um sucesso. O que começou com o apoio de vizinhos, hoje conta com um grupo no WhatsApp com mais de 150 clientes. O cardápio apresenta uma variedade de refeições, com aquela qualidade que só a comida caseira tem. A refeição mais vendida é o tradicional Mocotó, que inclusive foi a primeira opção a ser comercializada. Com a alta demanda, novos pratos foram adicionados ao cardápio e o negócio já soma uma média de 60 embalagens de comida congelada vendidas por dia.
Apesar de ter bons resultados no trabalho, quando perguntada sobre o
futuro que espera do Brasil, Marlova não responde da forma mais otimista: “A
gente vem de muitos problemas nos últimos anos, os governantes se mostram
cada vez mais incompetentes. A gente não tem um líder. Temos uma pessoa
completamente desequilibrada que comanda o país. A gente não vê a violência
diminuir, a gente não vê as pessoas pararem de passar fome, passando frio na
rua sem lugar para dormir. E a segurança nem se fala, eu sinceramente tô bem
desacreditada” – desabafa. A saúde mental equilibrada é importante na tomada
de decisões. Na busca pelo sonho de abrir uma esmalteria em solo português,
Marlova segue acreditando e se esforçando dia a dia. Cozinheira de mão cheia,
faz as comidas com o maior carinho do mundo.
É evidente que o momento em que vivemos é complicado, seja social ou
político. A reflexão sobre o futuro é um grande ponto de interrogação. Para
todos. A sociedade está adoecida. Escândalos, fraudes, roubos, descasos,
corrupção, discriminação racial e de gênero, falta de formação de opinião e de
debates democráticos. É difícil imaginar o cenário da humanidade daqui pra
frente, pois a negligência dos senhores de terno revolta. Sufoca. Isso causou
um desgaste em milhares de brasileiros que sentiram a necessidade de sair do
próprio país em busca de uma qualidade de vida digna. É preciso honrar e
pensar mais na frase estampada em nossa bandeira. Ordem e progresso é o
que precisamos, desordem e regresso é o que estamos vivenciando.
Infelizmente.
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