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Cama(leoa)

Por Joana Fontana


Dj. Atriz. Modelo. Poderia descrevê-la como camaleão, mas camaleão se camufla na natureza para não ser atacado. Ela não. Mariana Krüger tem 30 anos e zero medo de enfrentar a vida.


Começou sua carreira de dj em 2013, por acaso. “Fui convidada por uma casa noturna para fazer um set por causa de um comercial que fui protagonista e tinha viralizado na época. “ No mesmo ano, Mariana se formou em biologia. Até iniciou um mestrado em sua área de atuação, mas os trabalhos musicais começaram a crescer e a decisão estava mais do que clara: era esse seu ofício, sua paixão.


Os pais não ficaram tão contentes com essa escolha; mas assim que viram os resultados do trabalho, que é possível se sustentar no ramo do entretenimento, passaram a apoiar todas as escolhas da filha. O que foi crucial para que ela continuasse.


E aí veio a pandemia do Covid-19. E o mundo parou. O mundo das festas foi o primeiro a parar. E provavelmente será o último a voltar. Há mais de três meses sem poder trabalhar, Mariana viu seu mundo virar de ponta cabeça. Tudo que desperta o interesse dela é feito na liberdade. “Vivo na rua, adoro a noite, festa, amigos, restaurante, natureza, movimento. Aprender a ficar em casa e fazer tudo sem sair foi um desafio. Acho que durante a quarentena aprendi a dar valor a muitas coisas que antes passavam despercebida, os pensamento do tipo ‘eu era muito feliz’ aparecem todos os dias.” É, Mariana, espíritos livres não foram feitos para pequenos espaços. Foram feitos para o mundo. Para o universo.


Presa no apartamento, sem poder trabalhar no que ama, resolveu começar alguns cursos para criação de conteúdo digital, estímulo da criatividade e workshops sobre música. Como não está fazendo nada que dê retorno imediato, Mariana foi obrigada a se educar financeiramente, reduzir os gastos para poder sobreviver. “Aprendi que consigo viver com bem menos.”


Os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo, já dizia Leonardo da Vinci. Se for assim, a alma de Mariana é azul e cristalina. Tem a beleza e a imensidão do mar, com a força das de todas as marés unidas. E o reflexo do mundo para ela é exatamente assim, consciente de sua força natural. Vegana, ela começou a postar em seu feed do Instagram receitas, unindo estilo de vida com o tempo livre que arranjou na quarentena. “Eu amo cozinhar também! Mas não gosto da bagunça que isso faz hahahaha. Então me acalma mas me estressa ao mesmo tempo.”


Dormir é o que a mantém calma e tranquila. “É tipo uma versão humana do resetar o computador ou o celular". Se precisa desestressar, apela para a cozinha ou a cama.

É muito difícil imaginar como serão os próximos passos. Mariana concorda. “Acho que alguns comportamentos de higiene vão surgir e permanecer, mas dentro da balada não tem como exigir muito.” Garçons de máscara e luva, álcool em gel a granel, medição de temperatura na entrada são apenas algumas das medidas que precisarão serem tomadas quando tudo voltar a funcionar.


Os dias estão passando e a gente nem vê. As semanas voam e nada fazemos. O medo nos paralisa, e a ansiedade assola tudo que, um dia, ousamos sonhar em construir. Às vezes me preocupo com o que será da humanidade quando a vida normalizar. Se normalizar.


Seremos coelhos da Alice, correndo de um lado para o outro, sempre preocupados com o tempo perdido? Ou finalmente aprenderemos a apreciar a delícia que é o mundo? Cheirar as flores do caminho, cantarolar e dançar na cozinha, e todos os clichês mais lindos que existem, deixarão de ser clichês e se tornarão rotina? Mariana espera que sim. Esperamos que sim.

 
 
 

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